Era uma vez um homem que gostava muito de mangas e sonhava em ter um lar aconchegante com um vasto quintal de onde emergisse uma frondosa mangueira que o regalasse com frutos carnudos e docinhos. Um dia o calor estava terrível e o homem caminhava, sem rumo, no horário de sol mais à pino e estava de tal modo absorto em seus pensamentos que, embora não tivesse pra onde ir só ao chegar em um beco sem saída se deu conta que que errara o caminho. Lançando um olhar cansado ao redor avistou, atrás de uma placa de VENSE-SE (sic), um terreno baldio com uma majestosa mangueira de tronco largo e copa grande que projetava uma aconchegante sombra ao seu redor.
De maneira intempestiva o homem investiu todas as suas economias na aquisição do terreno e tratou logo de cuidar da mangueira com todo o esmero. Primeiro limpou todo o terreno, eliminando todo o lixo e entulho que davam um ar de abandono ao local. Na sequência caiou os muros de branco, instalou uma cerquinha de pinus – que depois pintou de branco – ao redor da árvore para manter pequenos animais longe de sua preciosidade, plantou gramas e algumas rosas até onde se estendiam as raízes e por fim instalou um rudimentar, porém eficiente sistema de irrigação para que nunca faltasse água para sua árvore.
O homem passava horas se deleitando sob a sombra da árvore em uma cadeira de área aguardando a queda das tão desejadas mangas. Porém dias, semanas e meses se passaram sem que a árvore produzisse um único fruto.
A tristeza tomou conta do homem, que não compreendia a razão da aparente ingratidão da árvore à despeito de seu sacrifício, de seus esforços e de sua dedicação.
Aconteceu de um dia o homem receber a visita de seu amigo André, especialista em plantas, árvores e afins. Ao ouvir com interesse genuíno a história do homem André examinou a árvore com atenção e revelou a verdade ao homem: “Meu amigo, isso não é uma mangueira. É um belo exemplar de outra espécie, talvez um jacarandá ou um jequitibá, mas certamente não uma árvore frutífera.”
O homem sentiu um misto sentimento de alívio e tristeza. Alívio por entender que a ausência de mangas não era uma ação (ou omissão) deliberada da árvore, mas sim uma incapacidade dela devido à sua natureza não-frutífera. Tristeza por perceber que seu sonho de colher mangas naquele lugar jamais se realizaria.
A partir daquele dia, o homem passou a contemplar a árvore com novos olhos. Aprendeu a apreciar sua beleza singular, sua sombra fresca e sua imponência. Compreendeu também que em determinados momentos na vida a realidade supera os nossos desejos, mas que isso não impede de encontrarmos beleza e valor no que temos. A lição que a árvore lhe ensinou foi valiosa: a aceitar o que é, em vez de lamentar o que não pode ser. A encontrar alegria nas pequenas coisas e a valorizar a beleza que existe ao nosso redor, mesmo que não seja exatamente como imaginávamos ou gostaríamos… e seguir em busca de boas mangas, ainda que seja na frutaria mais próxima.