Dia desses tive uma brisa bem difícil sobre uma área desconfortável da minha vida à partir de um ponto de vista que eu não havia percebido e que jamais teria percebido não fosse a intervenção luxuosa de uma amiga com quem eu não falava há muitos anos e com a qual retomei contato virtual há alguns dias. Até rola aquela conversinha “vamos marcar alguma coisa” mas sabemos que graças a deus isso não vai acontecer.
O contexto: Tenho estado há tempos infeliz com a minha relação com Alice (sub-contexto: ela é filha da minha ex-companheira e morou conosco dos 12 aos 15 anos e que por isso habita em mim como uma filha. Atualmente ela tem 20 anos e esta morando comigo novamente) ou mais exatamente com a não-relação dela comigo.
Apesar de estar há 51 anos decifrando indiferenças algumas indiferenças são mais indecifráveis e muito mais entristecedoras que outras, na inversa proporção do afeto que sentimos pela pessoa. Conversando com essa minha amiga mencionei a ela o episódio bizarro (agora tenho essa perspectiva) em que, depois de várias negativas por parte da Alice aos meus convites para irmos aos mais variados lugares, eu pergunto a ela via whatsapp que convite eu deveria fazer pra ela pra que ela respondesse “sim”, tendo como resposta um “kkkkk”.
Então essa colega me disse o seguinte: imagine como deve ser horrível uma pessoa que você não curte muito ou uma pessoa cuja companhia você não faz questão ou de quem você não sente a menor falta ficar o tempo todo tentando fazer programas com você ou puxar conversa com você ou coisas desse tipo!? e foi aí que a primeira ficha caiu.
O objetivo dela não era provocar esse insight em mim mas imediatamente me dei conta de que ainda não estou familiarizado com a realidade de que algumas pessoas simplesmente “não fazem questão” da companhia de outras pessoas. Isso ainda é totalmente contra intuitivo pra mim. Devido ao TPB eu sempre fiz questão de ter companhias e só agora mais recentemente eu aprendi a filtrar essas companhias, e agora eu consigo enxergar quais companhias realmente são interessantes, quais me fortalecem , quais me dão prazer, satisfação, alegria e quais companhias não são interessantes para mim nesse momento de modo que ainda me causa um certo estranhamento essa coisa de alguém desdenhar da companhia de alguém.
Ela seguiu me lembrando que “não é não” em qualquer circunstância e que depois do não TUDO É ASSÉDIO! independente de se tratar de uma relação amorosa, de trabalho ou mesmo de pai/mãe com filho/filha. É uma pessoa de 20 anos de idade e se por qualquer motivo ela não quer intimidade com você isso tem que ser respeitado e ponto final!
Fiquei chocado com essa aviltante acusação de assediador e logicamente não reagi bem no primeiro momento mas no fim do dia, ao colocar a cabeça no travesseiro e com a mente mais pacificada entendi que ela tem toda a razão.
Dias depois, por indicação da minha psicóloga, fizemos em casa o Teste de Linguagens do Amor (Gary Chapman) e o da Alice deu zero para demonstrações de afeto (a tal árvore que não é mangueira). Em algumas ocasiões depois disso eu ainda disse que a amava e exporadicamente perguntei se ela estava bem mas comecei a perceber claramente seu desconforto e decidi ficar na minha e não mais assediá-la, mas me senti muito mal com essa decisão. É sempre muito triste desistir de alguém (na proporção do amor que se sente).
Mas tentando olhar no outro sentido é curioso que tentando puxar aqui na memória vejo que raramente na minha vida eu senti que alguém tenha feito questão da minha presença ou da minha companhia. Acredito que a minha primeira esposa na época que a gente estava junto gostava e estar ao meu lado (no começo pelo menos) e teve também uma namorada que tive depois que em alguns momentos sentia a minha falta mas no mais eu nunca me senti necessário para ninguém e isso tambem deve ter relação com o TPB.