Mas logo eu, que cheguei por aqui agora.
Que não entendo nada dessas coisas
e de tudo o que há pra se entender
ou pra não se entender por aqui.
Eu que venho com a pressa de quem já chega
meio que de partida para outro lugar
que nunca é aqui e nem era lá.
Eu que não sei muito bem
porque vim e nem porque estava
e nem porque vou pra onde.
Eu que não quero mais o que eu nunca fui,
que temo o que eu nunca serei e que desconfio
dessa cara amassada que talvez seja o que eu sou
ou não e que se desamassa num sorriso
tão triste e sonolenta quanto a manhã.
E um sorriso, mesmo que triste,
ainda é um sorriso.
Eu que trazia tudo sempre confusamente
bem resolvido, as manchas muito limpas,
cada bolor e ferida sempre em seu devido lugar errado.
Agora vejo que terei que me reconstruir
do que sobrou desse que era sem nunca ter sido,
desse que se assentava seguro e confortável
à sombra daquilo que um dia talvez, quem sabe,
viria a ser se eu soubesse errar os erros certos,
o que de fato jamais aconteceu.
_marcos daniel