Ele havia parado no acostamento pra esticar as pernas e ajeitar umas coisas na bagagem e aproveitou para mudar a play-list do celular. Tomou um gole de água e voltou para a rodovia já com o som de Walk do Foo Fighters percorrendo o cabo do fone de ouvido, vento no rosto e o sol na pele. A guitarra de William Goldsmith ainda gritava os primeiros acordes quando ele se deu conta de que não havia afivelado a correia do capacete.
Nesse momento ele teve a nítida impressão de que ela passaria as mãos vagarosa e suavemente em torno do seu pescoço, alcançaria a alças da correia e faria o clic, recolhendo os braços logo em seguida… mas ela não estava mais na sua garupa, e ele sabia que ela nunca mais estaria.
Seu coração bateu mais forte, sentiu algo muito próximo de uma falta de ar e foi reduzindo a marcha enquanto se dirigia novamente para o acostamento. Afivelou o capacete mecanicamente enquanto caminhões passavam rápidos e pesados, fazendo muito barulho e levantando muita poeira. Chacoalhou a cabeça negativamente, como se quisesse espantar os milhares de lamentos, culpas e saudades que pousavam ao redor de sua cabeça.
Mas a estrada ainda era longa e a vida curta.
_marcos daniel
2012