Observador experiente e silencioso das vidas alheias, entre uma corrida e outra ele percorre as ruas da cidade como um navegador solitário em um oceano de luzes. Conforme os passageiros e suas conversas superficiais silenciam e o aplicativo segue apontando endereços variados e desconhecidos sua mente viaja por suas próprias lembranças e traça rotas pelas memórias que marcaram sua vida, ele encontra espaço para refletir sobre a liquidez dos relacionamentos ou, em outras palavras, sobre a natureza efêmera das conexões humanas. A cidade iluminada pelas luzes de cores variadas somadas aos sons que se embaralham torna-se o cenário perfeito para suas divagações.
Amigos que compartilhavam risadas agora eram como destinos distantes, colegas de trabalho que dividiam o expediente se tornavam passageiros de uma jornada que já não compartilhavam mais. As lembranças de amores passados perduravam como pontos de referência em uma cidade emocionalmente mapeada. Só a solidão o acompanha como uma passageira invisível no banco a seu lado… e sempre em silêncio.
Ao trafegar ora por avenidas movimentadas, ora por ruas, vielas e alamedas adormecidas que apesar do aparente contrate juntas ajudam a compor as páginas de um livro onde as histórias de sua vida se desdobram em capítulos de encontros e despedidas, ele percebe que, apesar da solidão que o acompanha cada semáforo vermelho é uma pausa, um breve momento para recordar antes de seguir adiante e cada viagem é uma oportunidade para novos começos, para histórias que se desenham a cada esquina. E assim, entre o burburinho da cidade e o silêncio do asfalto, ele segue seu caminho, transportando não apenas passageiros, mas também as memórias de uma vida vivida nas ruas daquela cidade.
_marcos daniel